7.1.08

O Libertino

É natural que muitos nunca tivessem ouvido falar dele. Eu própria. Não é do meu tempo, mas podia ter sido. Viveu entre 1925 e 2008 (ok ainda é do meu tempo), mas podia ter vivido a sua juventude nos dias de hoje. Provavelmente a sua vida teria sido igual. Falo de Luiz Pacheco.
Ontem, enquanto cruzava os olhos pelos livros e fazia zapping pelos meus 4 canais, fiquei suspensa de curiosidade, a meio de um documentário que passava no canal 2 (Luiz Pacheco - Mais Um Dia De Noite). Tratava-se de um documentário acerca de um escritor, que em jeito de conselho às camadas mais jovens que agora iniciam vida dizia: “P*ta que os pariu!”. Percebi então que não era um escritor qualquer. Foi “um escritor cuja irreverência fez mossa na carcaça do nosso proverbial conformismo”.
Não pude deixar de reter alguns aspectos mais curiosos acerca do trajecto deste homem, que com uma vida atribulada e dependente do álcool, passou muitas dificuldades de subsistência (devido à situação quase crónica de desempregado - com saco de plástico na mão), vivendo de esmolas e donativos. É numa destas alturas críticas da sua vida que escreve “Comunidade”, por muitos considerada uma obra prima da literatura (já conta com onze edições). Teve 3 esposas, outras menos oficiais e 8 filhos. Sempre se interessou pela inocência das mulheres (muito) mais novas, e assumiu-se desde cedo como bissexual, pois como ele próprio dizia, foi enrabado aos dez anos, mas não muito”. Criticou a censura imposta pelo regime do Estado Novo e tocou na ferida chamada guerra colonial, o que lhe valeu algumas estadias na prisão. O “escritor maldito” fez uma vida de excessos e carências, como expressão da liberdade que motivava a sua escrita. Morreu no passado dia 5 de Janeiro.
"Sócrates? Quem é? Não o conheço". Luiz Pacheco em entrevista dada no mês de Abril de 2007
Aqui, encontrarão um dos seus textos, "O Libertino passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor".
"O maior escritor vivo, o mais escritor, o mais português, o mais vivo: Luiz Pacheco!"
“De uma criança abusada sexualmente por um “poeta” homossexual (a “arte” que dá o “direito” à excentricidade do “vale tudo”), até que se tornou um “libertinário” (libertário + libertino) que a actual “elite” de esquerda admira – porque, no fundo, se inveja a “loucura” de quem manda às favas a ética da responsabilidade –, propaga-se subliminarmente a ideia de que, em nome da arte, tudo é permitido.”

16 comentários:

Mãe Happy disse...

Não conhecia... fiquei curiosa! ;)

bruno e.a. disse...

same to me!

será que encontro algum livro dele aqui no brasil!
Deixa cá ver...

M disse...

Leila* querida... adorei o teu post! :)
Está de uma sensibilidade sem precedentes! Adorei!
***, bom estudo e boa semana!

Anónimo disse...

Curiosamente também me apercebi de que algo estranho estava a acontecer na caixinha animada enquanto deambulava pela internet ... ouvi uns palavrões e uns abusos linguísticos que me despertaram alguma atenção ... depois percebi mais ou menos de que se tratava e agora reforcei ... trata-se deste "jovem idoso" ...efectivamente nunca antes havia ouvido algo acerca de semelhante personalidade mas pareceu-me alguém efectivamente muito à frente da época e despertou-me alguma curiosidade.
Gostava de ler esse livro, "Comunidade" ... deve ser bem provocador ... imagino ...

Ruca! disse...

grande post, maria leila.

nunca li nada dele, mas ja tinha vi sto esse documentário que referes e esse outsider por natureza é fascinante, pelo menos enquanto personagem mais que castiça que é, mas estou seguro que também como escritor.

uma autobiografia da vida dele dava o melhor dos livros.

agora ja n vai a tempo. :/

1 beijo

Leila* disse...

zaka e bruno: procurem que há muita coisa escrita sobre ele e os seus textos também são de fácil acesso.

medusasss: foi dificil escrever sobre o "maldito" do homem! É que tudo o que disse, já foi dito mais de mil vezes. Tentei só mostrar o que retive no documentário. Boa semana para ti também e bom estudo*

brama: não há melhor expressão para descrever o Luiz Pacheco do que "jovem idoso"!!

ruca: parece que ele escrevia todos os seus textos (ou quase todos) na primeira pessoa. Por isso, parece-me que a autobiografia dele ficou escrita... é preciso encontrar as frases e as passagens certas! ;) 1 beijo*

any the one disse...

Bem...a menina a falar de Luiz Pacheco. Muito bem. O escritor "maldito" teve uma vida que dava um filme. "Conheci-o" há uns anos, através de uma entrevista completamente surreal e polémica que deu a uma revista igualmente surreal e polémica (se a descobrir lá para casa depois mostro-te). É daquelas figuras que muito pouca gente leu, mas que todos gostam de ter na sua biblioteca, como prova de que são eles próprios super rebeldes, contra o sistema e mais um conjunto de parvoíces.

any the one disse...

Nem de propósito. Descobri um blog que reproduz a tal entrevista de que eu falava no comentário anterior. Para quem quiser ver: http://ofuncionariocansado.blogspot.com/2007/08/luiz-pacheco.html

any the one disse...

era o mesmo link que o teu...distraída a moça

mik@ disse...

ele nao se casou com mulheres muito mais novas que ele? o viveu junto...? acho que apanhei partes de um documentario sobre ele na rtp2 há uns tempos... mas nao tnh certezas

Leila* disse...

any:anda mesmo distraída a moça =) não sei se tanto como eu, mas isso é outra história! :P fico à espera da revista! E se bem te conheço, deves ter a obra completa do sr. eheheh baci*

mik@: ele casou com três mulheres, e eram sempre mais jovens. Chegou até a "andar" com duas irmãs (primeiro uma e depois como essa já estava a ficar velha, mudou para a mais nova) e a viver com as duas na mesma casa! Valente! ehehe

mik@ disse...

ahhh então foi mesmo esse o documentário que vi. olha que ao ouvir o homem a falar... nao gostei nem um pouco. aquilo eram miudas, se tinham 18 anos era muito... definitivamente não simpatizei com ele.

Leila* disse...

Mik@: ehehe miuda tem lá calma, que o sr. quando se casou não tinha aquela idade toda! Aliás ele quando se casou a primeira vez ainda era menor (e ela menor ainda)!! Acho que ele também nunca pretendeu que simpatizassem com ele, o efeito que ele queria era mesmo o inverso ;)

+ disse...

ainda a pouco ouvi uma entrevista de uma professora do secundário, a pedir para colocarem Pacheco no plano de ensino,como mais às aulas de educação sexual.
boa semana

Helena Magalhães disse...

Eu dava tuto tudooo pra ter vivido na epoca da revoluçao do 25 de Abril, epoca de mudanças, em que os mais altos espiritos se revolucionavam, quebravam as barreiras.. dava tudo pra ter quebrado mtas barreirs nessa altura, ter pisado o limite, ter arriscado.. enfim.. hoje em dia tudo ou quase tudo é permitido q ja perde um bocado a graça bah

Hydrargirum disse...

Tb soube:(

Era sem dúvida figura controversa!

Jinhos!